Rio – Os 14 corpos mumificados encontrados pela Polícia Civil no necrotério do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, Zona Norte do Rio, apresentam sinais de violência, incluindo indícios de homicídio, atropelamento e “pedaços” de corpos dentro de sacos plásticos. A informação foi confirmada pelo delegado Luiz Jorge Rodrigues, titular da 23ª DP (Méier) e responsável pelas investigações.
Nesta quinta-feira (23), a Comissão de Segurança Pública da Câmara Municipal do Rio realizou uma audiência pública para discutir as denúncias sobre o caso. Participaram do encontro o delegado da 23ª DP e o diretor do Instituto Médico Legal (IML), André Luiz Medeiros. Segundo o diretor, entre os cadáveres havia corpos que permaneceram no necrotério por cerca de um ano.
De acordo com o delegado, a identificação das vítimas só será possível por meio de exame de DNA ou análise da arcada dentária.
A apuração dos fatos teve início no começo de outubro deste ano, a partir de uma comunicação feita por um perito do IML, que relatou a impossibilidade de elaborar laudos devido ao avançado estado de decomposição dos corpos. Após depoimentos de testemunhas, foi descoberto que mais corpos estariam abandonados na unidade de saúde.
Um dos cadáveres, inclusive, estaria no local desde dezembro de 2024, sem qualquer possibilidade de identificação, não sendo possível determinar sequer o sexo da vítima. As investigações seguem para apurar possíveis crimes de fraude processual e vilipêndio de cadáver, além de outros delitos que possam ter ocorrido.
SMS se pronuncia
A Secretaria Municipal de Saúde informou que foi convocada para a audiência com um prazo de seis dias úteis. No entanto, o período foi considerado “curto”, o que inviabilizou a participação de representantes da pasta, já que a organização de uma audiência pública exige planejamento prévio e a preparação de informações técnicas e administrativas adequadas ao debate.
Ainda segundo a SMS-Rio, o convite para a audiência não especificava um tema definido, mencionando apenas, de forma genérica, a intenção de “debater os últimos fatos ocorridos no Hospital Salgado Filho”.
“A Secretaria permanece à disposição para dialogar com o Poder Legislativo e com a sociedade, e reitera seu compromisso com a transparência e a melhoria contínua da rede municipal de saúde, inclusive aguardando uma audiência para discutir as mais de 800 vezes que as unidades de saúde tiveram que fechar suas portas por motivos de segurança. Em especial na região do Grande Méier, jurisdição da 23a DP, uma audiência específica para discutir os pontos de venda de crack mapeados e enviados por ofício para a Secretaria de Estado de Segurança Pública.”
Sobre a declaração do delegado, a pasta disse que aguarda a conclusão do inquérito, “apresentando o número exato de pacientes investigados, suas identificações, e apresente um parecer técnico e conclusivo”. Em outro trecho da nota, a pasta reforça: “Até o momento, o que existe são suposições e, até que se prove o contrário, foram óbitos ocorridos por causas naturais, sem qualquer comprovação de conduta irregular intencional. A servidora pública responsável pelo setor encontra-se afastada preventivamente, medida adotada para garantir total transparência durante a apuração. A SMS-Rio reforça que, caso não se comprove a existência de má-fé, tanto o parlamentar quanto os demais autores das acusações deverão se retratar publicamente”.
A secretaria reitera, ainda, que não se pode imputar má-fé ou irregularidade a servidores públicos sem provas concretas, e reafirmou “seu compromisso com a verdade, com a ética no serviço público e com o respeito aos profissionais da saúde municipal”.
Funcionário afastado e divergência nas informações
Horas depois das denúncias se tornarem públicas, em outubro, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afastou a chefe do setor responsável pela liberação dos corpos e abriu sindicância para apurar os fatos.
Na ocasião, por meio de nota, a secretaria afirmou que não procede que haja dez corpos em decomposição no Hospital Municipal Salgado Filho. A pasta justificou que trata-se de um hospital com grande volume de atendimentos de casos graves e, consequentemente, número elevado de óbitos.

